O Papa entre os cardeais Tarcisio Bertone e Angelo Sodano: Homilia fez menção a divisões eclesiásticas
VINCENZO PINTO / AFP
CIDADE DO VATICANO — A rivalidade entre os dois já é conhecida. Mas o
conclave, em meados de março, promete dar nova dimensão às divergências
entre o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, e o
ocupante do cargo durante o papado de João Paulo II, Angelo Sodano.
Segundo o jornal italiano “La Repubblica”, os dois cardeais já iniciaram
uma ronda de contatos com os mais influentes religiosos que fazem parte
do grupo responsável por escolher o novo Pontífice.
Se
antes de ser eleito no conclave de 2005 Bento XVI já havia feito
denúncias contra a “sujeira na Igreja” em razão dos escândalos de abuso
sexual e a “ditadura do relativismo”, considerada uma ameaça à fé, agora
ele reforçou o tom de alerta contra a rivalidade e a desunião no
catolicismo.
Mas, ao que tudo indica, a seleção do novo líder de
1,2 bilhão de católicos no mundo não será isenta de discussões e
alianças entre diferentes correntes da Igreja. Sodano nunca escondeu o
desdém por Bertone, e desde o início se opôs à sua nomeação como
secretário de Estado. O descontentamento de muitos religiosos na Cúria
foi motivado, em parte, pelo perfil de Bertone, que não era um diplomata
de carreira como seus antecessores. Como já havia trabalhado
diretamente com Joseph Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé,
onde era considerado seu braço direito, as críticas não foram
suficientes para demover o Papa da decisão.
Durante meses Sodano
se negou a liberar seu escritório para o sucessor. Nos bastidores,
afirma-se que ele considera a gestão de Bertone nos episódios recentes
de escândalos da Igreja inábil - em casos como a palestra que irritou os
muçulmanos e o vazamento de documentos confidenciais.
De outro
lado, desde que se tornou secretário de Estado em 2006, responsável por
lidar com as questões do dia a dia do Vaticano, enquanto o Papa se
concentrava em questões espirituais, Bertone expurgou diversos aliados
de Sodano. Eles foram despachados para cargos de embaixador no exterior
ou para papéis de menor destaque no próprio Vaticano.
As
rivalidades nos bastidores do Vaticano ganharam destaque justamente no
episódio de vazamento de documentos, o que alguns analistas classificam
como iniciativas contra a administração de Bertone e o início da batalha
pela sucessão.
Como decano do Colégio dos Cardeais, Sodano
ajudará os eleitores a se prepararem para a votação. Ele será o diretor
de reuniões privadas, que normalmente ocorrem após o jantar, com
cardeais presentes em Roma e os que chegarão nas próximas semanas.
Temas de discussão
Segundo
reportagem do “Il Fatto Quotidiano”, caberá a Sodano definir os tópicos
da agenda das congregações gerais em que os cardeais discutirão os
problemas da Igreja. A partir destas reflexões lentamente surgirá o
perfil desejado para o novo Pontífice. Além de escolher os temas de
discussão, Sodano poderá indicar os oradores, incluindo pessoas de fora
do Colégio de Cardeais, que a cada dia traçarão um cenário da Igreja e
seus desafios neste século, incluindo questões como relativismo,
secularismo, o flagelo dos padres pedófilos, vazamento de documentos,
como o caso VatiLeaks, aborto, eutanásia, casais que vivem juntos sem a
bênção da Igreja, homossexualidade e a nova evangelização, entre outros.
Entre
as atribuições de Sodano, consta ainda a de presidir a missa de
abertura do conclave, na Basílica de São Pedro. Aos 85 anos, Sodano não
pode participar da votação. Mas, como ressalta o jornal italiano,
poderá, durante a homilia, usar o púlpito para dizer as últimas palavras
antes que o grupo de 118 cardeais se reúna a portas fechadas para a
eleição do novo Pontífice.
O GLOBO
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